segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

França, igreja e homoafetividade

O Congresso Nacional francês está prestes a regulamentar a união homoafetiva na França e isso significa um reconhecimento a história de um país que se destaca por seus grandes rompimentos paradigmáticos. O próprio presidente François Hollande disse que se trata de uma justiça a comunidade gay da França.

Pois bem, a França é um país peculiar e com uma cultura deveras interessante, porém, as vezes, contraditório. No caso da união homoafetiva, a França está caminhando rapidamente para a regulamentação, mas Paris foi capaz de colocar 340 mil pessoas na rua (com ajuda da Igreja Católica) para protestar contra essa lei que, segundo o Cardeal da capital francesa, é contra a família e um abuso de laicidade.

Ora, Estado e religião foram separados há muito tempo, assim tais essas manifestações da Igreja Católica são absolutamente desrespeitosas ao Estado Francês, embora o direito de manifestação religiosa seja permitido na França. O direito de manifestação tem limites e não pode ir contra a Constituição Francesa que separou a Igreja do Estado no início do século XX. A interferência da igreja por meio da fé é baixa e absolutamente repugnante.

Por isso, torna-se urgente uma resposta firme do Estado Francês e que tal resposta seja a regulamentação das uniões homoafetivas. A contradição ocorrida na França é curiosa e só demonstra que a regulamentação da união homoafetiva é apenas um pequeno passo para o efetivo reconhecimento e emancipação dessas  novas famílias.

Fabricio Maia

A triste história de Alan Turing: homossexual perseguido pelos aliados, mesmo após o fim da Segunda Grande Guerra


Há tempos não escrevia nada para o Blog, que vem se mantendo através dos acessos diários das pessoas que o acompanham há um ano. A propósito, gostaria de agradecer, oficialmente, em nome do Blog Direito e Homoafetividade, pela marca de acessos atingida no primeiro ano deste Blog: 10.000 (dez mil). Muito obrigado! Esperamos que as informações aqui publicadas, e as "bandeiras" defendidas, estejam sendo úteis para propagar uma mensagem de paz e respeito entre os homens, mormente neste tenebroso cenário atual, onde cada vez mais se mata homossexuais em razão de preconceito e discriminação.

Falando nisso, hoje pela manhã fui à exposição “Alan Turing: Legados para a Computação e Humanidade”, no Museu da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), onde está exposta a máquina Enigma, utilizada pela Alemanha Nazista - durante a Segunda Guerra Mundial- para enviar mensagens criptografadas. Vale apontar que a exposição permanecerá aberta ao público até o dia 23 de março de 2013.

O mote, entretanto, do evento é homenagear o matemático Alan Mathison Turing (23 de Junho de 1912 — 7 de Junho de 1954), considerado por muitos o pai da computação, uma vez que Turing desempenhou importante papel junto aos aliados, durante a Segunda Grande Guerra, decifrando as mensagens da máquina Enigma.

Importante lembrar, neste contexto, que a Alemanha Nazista perseguiu e matou milhares de Judeus, Ciganos e também Homossexuais, durante a Segunda Guerra Mundial. Especialmente no caso dos homossexuais, o artigo 175, do Código Penal, do 3º Reich, condenava práticas homossexuais, e, assim, milhares foram mortos, conforme a triste história que nos conta Rudolf Brazda, na obra "O Triângulo Rosa".

Uma situação peculiar, e um tanto quanto paradoxal, ocorreu na vida do matemático Alan Turing. Em que pese todo o serviço prestado aos aliados durante à guerra, decifrando as complicadas mensagens criptografadas dos Alemães, e, em razão disso, com papel decisivo na vitória dos Aliados na Segunda Guerra, Alan foi condenado, em sua terra natal, a Inglaterra, por práticas homossexuais, e perseguido.


Através de uma Lei Penal datada de 1885 (imagem ao lado), mesma lei que, anos mais tarde, iria condenar e perseguir o inglês Oscar Wilde pelo mesmo crime, homossexualismo, a vida de um dos heróis da Segunda Guerra é abreviada. Após a condenação, sofreu pena de tratamentos a base de hormônios e eletrochoques e viu suas verbas de pesquisas serem cortadas, até que, no ano de 1954, suicidou-se com cianeto, aos 42 anos.



O tímido pedido de desculpas do Governo Britânico veio, apenas, em 11 de setembro de 2009, quando o primeiro ministro inglês Gordon Brown, pediu desculpas formais em nome no governo Britânico pelo tratamento preconceituoso e desumano dado a Alan Turing.


A triste história de Alan Turing levanta uma questão importantíssima: qual a verdadeira diferença entre os ideais Nazistas e os ideias dos Aliados? Tanto Rudolf Brazda, quanto Alan Turing foram perseguidos, naquele período, pelo mesmo motivo: possuir uma orientação sexual condenada pelos seus Estados!

E, no caso de Alan, muito pior... mesmo após toda a violência que a Guerra mostrou à Humanidade, os anseios do mundo pela paz, respeito e igualdade entre povos, ainda assim  existiu um país  que ousou condenar e matar um dos seus heróis pelo mesmo motivo que quase havia levado a Europa e o Mundo a um colapso: a discriminação.

* Por Maurício Esteves e Maria Cristina Esteves
** Texto escrito em 11 de janeiro de 2013
*** Fotos por Maurício Esteves